Um conto de Contos da selva, de Horacio Quiroga.
Leia um trecho; Num rio muito grande e num país distante, no qual o homem nunca esteve, viviam muitos jacarés. Eram mais de cem ou mais de mil. Eles comiam peixes e outros animais que iam beber a água do rio, mas principalmente peixes. Faziam a sesta na areia da praia e às vezes brincavam na água nas noites de luar.
Todos viviam muito calmos e felizes. Mas uma tarde, enquanto faziam a sesta, um jacaré acordou de repente e levantou a cabeça porque pensou ter ouvido um barulho. Ele ouviu com atenção. De muito, muito longe, ouviu um ruído baixo e profundo. Então ele chamou o jacaré que dormia ao lado dele.
— Acorde! — disse-lhe. — Perigo.
— O que foi? — respondeu o outro, alarmado.
— Não sei — respondeu o jacaré que havia acordado primeiro. — Ouço um barulho desconhecido.
Horacio Silvestre Quiroga Forteza foi um escritor uruguaio que viveu a maior parte da vida na Argentina. Ficou famoso por seus contos, que geralmente tratavam de eventos fantásticos e macabros na linha de Edgar Allan Poe e de temas relacionados à selva, sobretudo da região de Misiones, na Argentina. Sua vida foi marcada pela tragédia, a doença e suicídios de familiares e amigos. Embora um grande escritor, era diminuído por seus colegas escritores, principalmente por Jorge Luis Borges, que o classificava como mero discípulo dos autores que o inspiravam. Em sua defesa Quiroga alegava que a humildade e a adoração aos “grandes mestres” eram seu destino e que se orgulhava de ser comparado a eles.
Consultor em cultura participativa, remix e inovações digitais. Transitou pelos mercados editorial, jornalístico, publicitário e audiovisual em seus trinta anos de carreira. Criou metodologias para localização cultural em países diversos como China, Índia, União Europeia, Estados Unidos e América Latina. Autor de Gunned Down — Down the River (EUA, 2005) e O catador de batatas e o filho da costureira (Brasil-Japão, 2008). É fundador da Mojo (2006) e do Instituto Mojo de Comunicação Intercultural (2018).