Empatia. Esta é a principal palavra para obra de Sui Sin Far, pseudônimo de Edith Maude Eaton (1867-1914). Nela, a autora retrata a vida dos imigrantes chineses durante o período do Chinese Exclusion Act (Lei de Exclusão dos Chineses), que, em 1882, proibiu a entrada de trabalhadores chineses nos Estados Unidos e atribuiu pela primeira vez ao poder federal daquele país a capacidade de definir a política migratória nacional — essa proibição vigorou até 1943. Foi exatamente nesse período que Sui Sun Far produziu uma obra onde esse grupo de imigrantes é apresentado em toda sua complexidade e em meio às mais diversas tensões raciais, religiosas e socioeconômicas. Os chineses desse romance são uma força necessária à economia local, mas ao mesmo tempo sofrem preconceito por seus costumes e origem. Suas tradições chocam-se com as da sociedade progressista californiana. Assim, Sui Sin Far aborda as diferenças culturais, de gênero, as lutas sociais e, surpreendentemente, aponta e ilumina recantos da alma humana além das diferenças físicas. Temas como a opressão feminina, a exploração sexual, o homossexualidade e outros, polêmicos até hoje, já se fazem presentes em seu trabalho. Um fluxo migratório em grande escala, como foi o dos chineses nos Estados Unidos entre o final do século 19 e começo do 20, muita vez pode resultar em um confrontamento entre culturas e classes sociais. Há chineses pobres discriminados por chineses ricos, mulheres chinesas oprimidas por maridos chineses tradicionalistas, homens brancos casados com mulheres chinesas e vice-versa, crianças mestiças cujo preconceito já está reservado para o futuro. A bondade e a crueldade não são predicados de uma ou outra etnia: o ser humano, em seu âmago, é igual em suas virtudes e falhas. De maneira sublime somos apresentados ao modo de pensar e agir de uma outra cultura. A maneira gentil, humana e inteligente como a Sra. Fragrância Primaveril contorna problemas de parentes e amigos é um exemplo da sutileza oriental em face à rudeza ocidental. Edith Maude Eaton foi uma das precursoras do multiculturalismo com sua obra Sra. Fragrância Primaveril. Ela mesma era filha de pai americano e mãe chinesa. Por isso, é considerada a primeira descendente a escrever sobre a condição sociocultural dos imigrantes chineses na América. Nessa coleção de contos publicados originalmente em dezenas de revistas e compilados em 1912, Sui Sin Far analisa de maneira delicada e real as mazelas da convergência de dois povos tão diferentes na região da Califórnia.
Edith Maude Easton, 水仙花 ou Shuǐ Xiān Huā, nasceu Edith Maude Eaton, em Macclesfield, Inglaterra, era filha de Edward Eaton e de mãe chinesa Achuen Grace Amoy — ambos se conheceram quando ele visitou Xanghai, China. Sua mãe era uma mui tsai (escrava chinesa) e foi comprada por um empresário circense. Sui escreveu principalmente sobre a experiência dos imigrantes chineses nos Estados Unidos e seu processo de “americanização”. “Sui Sin Far”, seu pseudônimo, significa “flor de narciso”, em cantonês.
Fundador do Instituto Mojo, consultor em localização cultural, cultura participativa e inovações digitais. Tradutor e editor de centenas de títulos literários e graphic novels do inglês, do espanhol e do francês. Autor de Gunned Down — Down the River (Terra Major, EUA, 2005) e O catador de batatas e o filho da costureira (JBC, Brasil-Japão, 2008). Criou o programa Literatura Livre com o propósito de construir o maior acervo digital da literatura mundial em domínio público com acesso livre e gratuito.