Crônicas do Japão é o segundo registro escrito das histórias, mitos e lendas da civilização japonesa medieval. Importante fonte do pensamento Shintō e da história das primeiras famílias imperiais, Crônicas do Japão narra, por exemplo, a introdução do budismo no país e a Reforma Taika ocorrida no século 7. Os textos dessa obra têm suas origens em histórias orais. Escritos originalmente em chinês, fato que reflete a influência dessa civilização sobre o povo japonês, foram compilados em 720 por ordem da corte imperial. O objetivo era fornecer ao Japão uma história capaz de fazer frente aos anais dos chineses. Compilado por Ô-no-Yasumaro e pelo príncipe Toneri-no-miko, esta obra mescla lendas, mitos e a genealogia da família imperial. Ao entender as raízes alegóricas do Japão, cria-se uma ponte entre suas origens culturais e a contemporaneidade brasileira, que passou a receber imigrantes japoneses a partir de 1908. A imigração japonesa ao Brasil era composta em sua maioria por antigos membros de classes e profissões remodeladas ou extintas pela Reforma Meiji, que embora fosse um esforço para modernizar o país, colocou à margem da sociedade uma grande parcela de sua população. Esses imigrantes vieram para um mundo bastante insólito, que desafiou a fortaleza de suas tradições e costumes. É possível afirmar que Nihonshoki é uma espécie de versão oficial dos mitos do Japão e de parte da história daquele país. À época, sua produção buscava legitimar o poder então estabelecido com narrativas que vinculavam a origem do imperador à deusa Amaterasu e vincular a história do país a uma base documental. A tradução para o português desse texto fundador da civilização japonesa, considerado tesouro nacional em seu país de origem, é portanto uma conquista para o nosso idioma.
Ō-no-Yassumaro (太 安万侶, ?-723) – Era membro da nobreza japonesa, burocrata e cronista. Era provavelmente filho de Ō no Honji (多 品治), que participou da Guerra Jinshin (672). Yassumaro é famoso por compilar e editar o Kojiki, a mais antiga obra japonesa conhecida, uma encomenda da Imperatriz Genmei. Ele também provavelmente teve papel de destaque na compilação do Nihonshoki, concluído em 720.
Toneri-no-miko (舎人親王, 676-735) O príncipe imperial era filho do Imperador Tenmu. Viveu no início do período Nara, quando ganhou poder político como líder da família ao lado do príncipe. Foi o supervisor da compilação do Nihonshoki.
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e doutora em Literatura Brasileira pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira também pela FFLCH-USP. Bolsista do Ministério da Educação do Japão (atual MEXT) com especialização em Língua e Cultura Japonesas pela Universidade de Waseda (Tóquio) e do Programa de Treinamento de Professores estrangeiros de Língua Japonesa da Fundação Japão, organização vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. É docente de Literatura Japonesa no curso de Letras Japonês e no Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa. Autora de artigos e livros de temas relacionados à Língua e Literaturas Japonesa e Brasileira. Em sua carreira Lica traduziu dezenas de obras da literatura japonesa, do clássico ao contemporâneo.