Alice entra pelo espelho e vai parar num mundo às avessas. É lá que ela descobre que para ser rainha precisa passar pelas casas de um tabuleiro imenso. A cada jogada, Alice precisa entender como vencer os mais absurdos adversários, mesmo que sua arma geralmente seja uma paciência imensa para ouvir as mais descabidas poesias e cantorias.
O Cavalheiro Vermelho, Humpty Dumpty e os gêmeos Dum são apenas alguns dos personagens inacreditáveis que essa menininha que acha que sabe tudo vai encontrar pelo caminho.
Carroll, era matemático e não pensava em ser escritor, criou o livro despretensiosamente, ao inventar uma história para três crianças durante uma viagem. Apesar de envoltos em polêmicas — obra e criador — conquistaram fãs de peso como Oscar Wilde e a própria rainha Vitória.
Dentre as muitas curiosidades do livro, está o fato de que Carroll escondeu vários problemas de matemática e lógica no texto. A maioria é praticamente imperceptível para o leitor comum, principalmente por terem sido escritos usando trocadilhos do inglês vitoriano.
Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwige Dogson, foi matemático, poeta, filósofo, inventor e fotógrafo, em uma época em que a fotografia ainda era uma novidade. Gago desde a infância — problema que ele chamava de “hesitação” — e por toda a vida adulta, alguns de seus biógrafos dizem que só conseguia falar normalmente com crianças — meninas apenas, pois odiava meninos. Adulto, tinha fortes enxaquecas, que os médicos da época diagnosticaram como epilepsia.
Sua obra mais famosa foi inspirada em uma menina real, chamada Alice Lidell, filha de um amigo e colega, professor de Harvard. Em um passeio, contou a ela uma história improvisada sobre uma menina que vivia uma aventura embaixo da terra. Muito se comentou sobre a menina Alice ser um amor platônico de Carroll, que nunca se casou. De qualquer maneira, nuncahouve qualquer indício que tais boatos fossem verdadeiros.
Típico homem vitoriano, era fascinado pela nobreza e propenso ao esnobismo. Reprovava a indecência em todas as suas formas, no dia-a-dia e nas artes. Talvez como fuga à própria rigidez, tenha criado um mundo tão fantástico, que alguns acadêmicos também classificam como a visão infantil do mundo adulto — afinal, os personagens só dizem coisas confusas e parecem todos loucos. Como disse Martin Gardner: “O último nível metafórico nos livros de Alice é este: que a vida, vista racionalmente e sem ilusão, parece ser uma história disparatada contada por um matemático idiota”.
Consultor em cultura participativa, remix e inovações digitais. Transitou pelos mercados editorial, jornalístico, publicitário e audiovisual em seus trinta anos de carreira. Criou metodologias para localização cultural em países diversos como China, Índia, União Europeia, Estados Unidos e América Latina. Autor de Gunned Down — Down the River (EUA, 2005) e O catador de batatas e o filho da costureira (Brasil-Japão, 2008). É fundador da Mojo (2006) e do Instituto Mojo de Comunicação Intercultural (2018).