Este conto pertence ao livro Histórias do tio Karel.
Leia um trecho:
— Ah, foi uma estiagem daquelas — começou Karel —, do tipo que só dá para fazer carne-seca. Durante muito tempo o Velho lá no céu brilhou muito e chupou toda a água dos campos. Despejava quentura no mundo, de manhã até a noite. Quando se escondia para dormir, um vento quente soprava sem parar, até o sol acordar outra vez. No Karoo, os arbustos secavam, os rios não tinham mais água e os pobres animais começaram a morrer de sede. Foi uma seca como vocês nunca viram igual, senhorzinhos. Por fim, o leão reuniu todos os animais, para juntos pensarem em um plano. O sol estava escondido e a senhorinha Lua passeava pelo céu, linda como sempre, observando o mundo quente. O leão sentou-se protegido pela sombra do penhasco, onde estava um pouco mais fresco, e os outros se reuniram em volta dele como uma fatia de melão. À frente ficaram o leopardo, a hiena, o babuíno, a lebre e o jabuti. Esses eram os líderes. Os pequeninos, como o coelho, o suricato e o porco-espinho ocuparam as laterais. A zebra, o antílope, o avestruz e a girafa permaneceram na planície, esperando para ouvir o que seria definido. Fingiam que estavam pastando, mas suas orelhas se moviam para frente e para trás, para frente e para trás — assim, senhorzinhos —, para não perderem nem uma palavra. Também estavam prontos para fugir a qualquer sinal de perigo, levantando poeira para que o leão os perdesse de vista. Mas não havia motivo para terem medo. O leão estava com muito calor, cansado e fraco demais para caçar. Sentou-se encostado ao penhasco com a língua de fora, os outros se sentaram em volta dele também com suas línguas de fora, olhando sempre para o céu, tentando identificar alguma nuvem que trouxesse chuva. Nada! O céu parecia uma grande bacia virada ao contrário. A senhorinha Lua o atravessava o firmamento em seu caminho prateado, seguida pelas estrelinhas que brilhavam como se fossem pedacinhos do sol. Não havia nada sequer parecido com uma nuvem. O leão então recolheu sua língua, remexendo-a dentro da boca para aliviar a secura. Quando se sentiu um pouco melhor, começou a falar:
“Amigos, irmãos e sobrinhos”
— Pois é, foi assim que ele começou seu discurso. Estava tão abatido que tratava a todos como amigos — observou Karel.
Sanni Metelerkamp (1867-1945)
Bisneta de George Rex, fundador da cidade de Knysna, na África do Sul, sua compilação de contos folclóricos foi um esforço para preservar histórias infantis populares, comumente contadas à luz do fogo em regiões tribais. Escritora e dramaturga, foi uma das responsáveis por introduzir as artes cênicas na cultura sul-africana.
Tradutor, revisor, publicitário e editor no Instituto Mojo de Comunicação Intercultural. Formado em publicidade e propaganda pela Universidade Metodista e com pós-graduação de Tradução pela Estácio de Sá, Gabriel Naldi possui ampla experiência em planejamento estratégico para ações digitais, em agências de propaganda, empresas e portais. Foi revisor de textos para emissoras e empresas como Petrobras, Band, TV Tribuna, TCE Pará e TCU. Desde 2013, atua como tradutor e revisor de texto, localização de websites, redação publicitária, marketing e tradução literária.